sexta-feira, fevereiro 03, 2006

Andrea Moda: Nada Pode ser Pior


De todas as equipes que já passaram na história da F1, mesmo aquelas que nunca largaram, ou eram apenas particulares correndo com carros de terceiros, nenhuma deleas misturou tantos fatos bizarros, estranhos ou até imbecilidades quanto a Andrea Moda. É justamente sobre a "história" desta escuderia é que o primeiro texto "oficial" deste blog trata.

Voltemos então ao final de 1991. A Coloni, tradicional time do fundo do grid e das pré-qualificações, já não tinha dinheiro pra nada, e nem conseguiu se classificar para uma prova. Para piorar, o dono do time, Enzo Coloni abandonara o time que agora corria risco de fechar. Mas nos momentos finais de 1991, algo interessante aconteceria.

Lá pelo GP da Espanha, foi anunciada a compra da Coloni. O comprador seria revelado depois: era o milionário italiano da indústria de moda Andrea Sassetti. O time recebeu o nome de uma de suas empresas (Andrea Moda) e partiu para a temporada 1992 usando o Coloni da temporada passada e com motores Judd.
Ainda contrataria os conterrâneos Enrico Bertaggia (com passagem pela mesma Coloni em 1989) e Alex Caffi (ex-Scuderia Italia e Footwork).

Logo na primeira corrida, o GP da África do Sul, em Kyalami, Sassetti foi pego numa controvérsia: A FIA ordenou que Sassetti pagasse as garantias que as equipes novas precisavam para poder estrear. O dono da Andrea Moda protestou, dizendo que a Andrea Moda era nada mais do que a Coloni rebatizada com um novo nome, e ainda a seu favor, outras equipes também mudaram de nome e não pagaram a tal quantia (cerca de US$ 100 mil na época). A equipe participou até dos treinos de reconhecimentos do circuito de Kyalami, na quinta-feira, mas não da pré-qualificação: A FIA decidiu que a Andrea Moda era uma equipe nova, e como o time não havia pago as garantias, a equipe foi excluida da corrida. Para o próximo GP, no México a equipe decidiu reconstruir o carro (renomeado de S291), contando com os desenhos de Nick Wirth (que depois trabalharia na Simtek) e de mecânicos de outros times. Mesmo com o carro pronto às pressas, a equipe desistiu de participar da corrida, e pra piorar acabaram demitidos do time.

Para os seus lugares foram chamados o brasileiro Roberto Moreno (diga-se de passagem, especialista em pilotar carros que não atendiam ao seu talento) e o britânico Perry McCarthy. Na chegada ao Brasil, as confusões continuaram: McCarthy teve sua superlicença revogada e depois devolvida,e Moreno não conseguiu fazer o carro passar da pré-qualificação. Na Espanha, tudo dava pinta de que melhoraria, mas aí a bizarrice entrou em cena (de novo).

O brasileiro enfrentou problemas com o motor na pré-qualifcação, mas foi McCarthy que sofreu mais. Depois do carro ter sido montado às pressas para a pré-qualificação, apenas 18m depois de sair dos pits, o motor para! Exatamente: o motor parou do nada! A estréia de McCarthy na F1 se resumiu a apenas alguns passos! Ainda que Moreno conseguisse usar o carro de McCarthy para outra tentativa, nada poderia ter sido feito.

Depois de um fim de semana "normal" em Ímola, veio o GP de Mônaco, nas ruas de Monte Carlo. E o que parecia impossível acontece: A Andrea Moda passa da pré-qualificação e ainda conseguiu lugar no grid de largada. O autor da façanha foi Roberto Moreno, que obteve o 26o posto no grid. No dia da corrida, o carro durou apenas 11 voltas, quando o motor de Moreno teve problemas. Aquelas seriam as primeiras e únicas 11 voltas de um Andrea Moda numa corrida da F1...

Quando tudo parecia começar a dar certo, as forças do destino conspiraram de novo contra a trupe de Sasseti: sua discoteca na Itália pegou fogo, e ao tentar sair, sofreu a um atentado. Quand voltou ao Canadá, para a corrida em Montreal, mais uma daquelas: os carros estavam lá, mas os motores não. Tudo culpa de uma tempestade que adiou vários vôos, inclusive o dos motores Judd do time. O time ainda conseguiu arranjar um motor emprestado da Brabham para Moreno, mas de novo o grid estava longe.

Na França, mais um obstáculo bizarro atrapalhava o time: uma greve de caminhoneiros parava as estradas do país, impedindo que as equipes pudessem chegar ao circuito de Magny-Cours. Enquanto as outras equipes usavam caminhos alternativos, a Andrea Moda ficou parada na estrada, e nem apareceu na corrida. E o dinheiro começava a escassear, por isso Sassetti começou a dar quase toda a ajuda a apenas 1 carro: o de Roberto Moreno. O time apareceu sem patrocinadores no GP da Inglaterra, e com mais confusão: os dois carros usaram o mesmo jogo de pneus de chuva, só que Moreno os usou quando realmente a pista estava molhada. E McCarthy, mesmo saindo da pista várias vezes, ainda marcou um tempo (ruim é clar0).

Em Hockenheim (GP da Alemanha, claro) McCarthy nem conseguiu marcar tempo,e ainda foi desqualificado por perder a pesagem dos carros, e Moreno quase chegou nos 4 primeiros da pré-qualificação (que iam a qualificação normal). A relação McCarthy x Sassetti azedou quando o pobre britânico saiu a apenas 45s do fim da pré-qualificação, sem chance de tempo. Enquanto McCarthy pensava "o que é que tô fazendo aqui?", Sassetti se arrependia de ter demitido Bertaggia, o que significaria alguns milhõezinhos em patrocínio...
Moreno ainda conseguiu ser o mais lento de todos os carros daquele fim-de-semana, mas o pior seria a FIA pegando pesado com a Andrea Moda: ou dariam um carro em condições para McCarthy, ou...é, você entendeu.

Na Bélgica, pelo menos uma salvação. O fim da Brabham tornou desnecessária a pré-qualificação, "promovendo" os Andrea Moda a qualificação propriamente dita. Mas nada mudou: mesmo com Erik Comas e sua Ligier sem marcar tempo, os dois carros só conseguiram os 2 piores tempos. Mas o pior mesmo estaria por vir...a polícia da Bélgica prende Sassetti, acusado de fraude. Por causa disso, a FIA bane a Andrea Moda do campeonato por "trazer má-reputação ao esporte". Com isso, chegava ao fim a "aventura" da Andrea Moda, considerada a "pior escuderia da história da F1" para alguns.

***
Depois desta história, só nos resta falar sobre o destino dos personagens

Enrico Bertaggia voltou a Fórmula 3000 em 1993, e depois partiu para os carros-esporte, participando de várias 24h de Le Mans e Daytona, sem muito sucesso.
Alex Caffi conseguiu um sucesso relativo na carreira de sportcars, vencendo algumas corridas e participando de provas importantes.
Roberto Moreno foi para o outro lado do Atlântico ter um relativo sucesso na Fórmula Indy/CART/Mundial (escolha o nome que queira)
Perry McCarthy participou de algumas provas de sportscar, mas não teve muito sucesso. Participou de várias 24h de Le Mans, sem resultados convincentes
E Andrea Sassetti..bem...este ainda não encontramos nada sobre ele. Provavelmente deve ter voltado a indústria de sapatos, onde pelo menos não tem tanto alarde né?

FICHA TÉCNICA
Nome oficial: Andrea Moda Formula
Estréia na F1: Gp da África do Sul 1992
Despedida da F1: Gp da Bélgica 1992
Temporadas disputadas: 1 (1992)
Dono: Andrea Sassetti
Motor: Judd
Pilotos: Enrico Bertaggia e Alex Caffi (ambos italianos), Roberto Moreno (brasileiro) e Perry McCarthy (britânico)
Corridas: 9
Melhor classificação: DNF (11 voltas, GP de Mônaco)







FOTO E BIBLIOGRAFIA: F1Rejects e Chicane F1

5 comentários:

Anônimo disse...

Grande alternativo!

Belíssima história e bom blog, continue mandando brasa!

Anônimo disse...

Belíssima história. Posta este texto lá no www.forumfaster.com.br no Nostalgia, para ser colocada na enciclopédia.

Anônimo disse...

Totalmente excelente! Keep up the good work!

Anônimo disse...

Trabalhei na F1 em 90 na Osella ,em 91 na Lambo, em 92 na Andrea Moda, em 93 na Minardi ,e nunca tinha visto um comentario tao bem feito, apesar de triste ,gostaria de fazer uma observaçao ,o carro da Andrea Moda,não era dos mais lentos ,só a equipe nao tinha a menor estrutura ,mas fizemos milagre ,varei varias noites ,valeu

milton disse...

Equipe, ridícula, caricata, exdrúxula, grotesca e estapafúrdia...