quarta-feira, agosto 09, 2006

Pela Unificação futebolística das Américas

Desculpe-me pela longa demora em escrever novas coisas neste blog, é que me mantive um pouco ocupado (ou sem saco ou esquecido) nos últimos tempos para escrever algo por aqui. Confesso que tive diversas idéias, mas não as consegui por em prática...até hoje.

Até hoje porque resolvi escrever um texto sobre algo que há muito tempo penso e discuto comigo mesmo: a situação do futebol no continente americano. Não no sentido tático-técnico, mas no estrutural. Quanto a estrutura de seu futebol e suas confederações e competições.

Como já sabemos, a América é dividida em 2 Federações: A CONMEBOL, que engloba os países da América do Sul, e tem como principais competições a Copa América (para seleções), a Taça Libertadores e a Copa Sul-Americana (para times); e a CONCACAF, que engloba a América do Norte, a América Central, o Caribe e as Guianas (mais identificadas historicamente com o Caribe do que com a América do Sul), que tem como competições principais a Copa Ouro (para seleções) e a Copa dos Campeões (para times). Assim é a estrutura continental do continente americano no futebol.

Tudo isso seria perfeito se não fosse por uma coisa: a divisão em 2 Federações sucita adversidades no nível técnico e no nivel financeiro do esporte: todas as competições mais rentáveis estão com a CONMEBOL (em especial a Libertadores), muito em conta da presença massiva da TV, de times que atraem público e audiência e também patrocinadores (Toyota na Libertadores e Nissan na Sul-Americana). Além disso, as principais forças históricas do continente são do lado sul (Brasil, Argentina e Uruguai). Notavelmente, são desses países, principalmente, de onde saem vários dos principais jogadores das equipes européias atualmente. Além disso, países como Equador, Paraguai, Chile e Colômbia tem demonstrado força em competições locais desde quase sempre, realizando uma feroz disputa com a "tríade do Cone Sul"

Ao contrário da CONCACAF, que vê um duo EUA/México "dominando" o futebol por lá, com alguma concorrência da Costa Rica e de alguma equipe da parte continental da América Central. Com raras exceções, o Caribe (e o Canadá) são sempre postos de lado em favoritismo em disputas regionais. A falta de uma grande concorrência local, aliada a pouca rentabilidade de seus torneios põem a parte norte do continente em segundo plano no mundo futebolístico.

As equipes mexicanas notaram isso, e, desde 1998 passaram a enviar representantes para a Libertadores. Entre 1998 e 2003, disputaram uma fase preliminar com equipes da Venezuela, e em quase todas, superando os seguidores da Vinotinto. A partir de 2004, aparecem direto na competição, quase sempre chegando nas fases finais: o ápice foi em 2001 quando o Cruz Azul foi vice, perdendo do Boca Juniors na final. Apesar da rentabilidade e da melhor concorrência técnica, os times mexicanos não poderiam tomar parte do Mundial Interclubes (e agora da vaga sul-americana do Mundial da FIFA), porque eram apenas convidados da CONMEBOL na competição. E desde 2005, times mexicanos e dos EUA disputam a Copa Sul-Americana, com o Pumas UNAM chegando a final. E perdendo para o Boca nos pênaltis.

Enquanto isso, os mexicanos continuavam a disputar as competições de clubes caseiras, mas desinteressados. Como a principal competição de clubes da CONCACAF não tem muito do charme e da tradição da Libertadores, os clubes mexicanos algumas vezes escalavam seus times reservas nas partidas. Já nas competições de seleções, não se vê tanto "marasmo". Apesar de nos últmos anos equipes de fora da CONMEBOL disputarem a Copa América e da Copa Ouro ter convidados de fora da CONCACAF (o Brasil entre eles), as duas competições permanceram "intactas" em sua parte técnica (tá, o fato de algumas vezes times reservas disputarem esses campeonatos também vale como crítica).

Como lidar com duas federações em um continente só: a "principal", que vê cada vez mais o domínio de dois países contra o "resto" que guerreia pelo segundo escalão e a "secundária", que vê um de seus membros mais fortes preferir disputar as competições da "principal" do que prestigiar os campeonatos feitos pela mesma? A solução mais viável seria a unificação de ambas as confederações, criando assim, uma confederação pan-americana de futebol que lidasse com as competições continentais de modo unficado e simples.

É a mais viável, mas não a mais simples. Embora o dono deste blog é altamente favorável a fusão de CONMEBOL e CONCACAF, diversas coisas tem de ser analisadas antes de se ter uma opinião criteriosa sobre o assunto (sim, falei bem bonito). Uma delas é a "relação de poder" entre os membros de ambas as confederações.

Os países da América Central (exceto a Costa Rica) teriam a concorrência de países como Colômbia e Equador na disputa pelo setor intermediário continental. A presença de países da América do Sul seria de fato interessante como adversários a estas seleções, já que estão mais acostumados a enfrentar times de maior porte em competições (nenhuma ofensa aos membros da CONCACAF). Mas também significaria a perda da "hegemonia local", já que agora teriam que jogar contra equipes da América do Sul, na luta pelos escalões menores do continente. Sem falar que o Caribe continuaria mais "atrasado" futebolísticamente do que nunca, a não ser que a presença de sul-americanos comece a excitar um trabalho sério e de peso em lugares como Jamaica e Trinidad e Tobago, que recentemente foram a Copa do Mundo.

A divisão de poder entre os dirigentes teria de ser feita cuidadosamente para não haver problemas e rusgas entre as duas regiões. Nicolás Leoz e cia., que comandam o futebol sul-americano, não aceitariam perder espaço para o pessoal da CONCACAF. Seria importante minar brigas entre os "donos" do futebol nas duas partes da América.

Já no campo relacionado as competições, a fusão traria coisas bastante interessantes: Finalmente a Libertadores justificaria ser "da América", com a entrada dos times da parte norte-central-caribenha do continente, assim como a Copa Sul-Americana assumiria de vez o título de Pan-Americana (que seria o original da competição). Os times mexicanos entrariam realmente fortes na competição, assim como haveria a estréia efetiva das equipes da MLS (a liga dos EUA) no campeonato. Para os "yankees", seria a prova definitiva enfrentar as equipes do sul e mostrar o crescimento do "soccer" nas bandas de George W.Bush. Além disso, seria muito proveitoso financeiramente, com a provável entrada de patrocinadores americanos.

A estrutura de competições de clubes seguiria mais ou menos a estrutura da UEFA. Fases preliminares, onde estariam principalmente os times de países alternativos do continente, uma fase de grupos normal (onde entrariam as principais forças) e mata-mata. A Copa Sul-Americana (que seria Pan) seguiria o modelo de mata-matas da Copa da UEFA (apesar dela usar grupos atualmente).

Já no caso de seleções, haveria a "verdadeira" Copa América, com eliminatórias locais (nos moldes da Eurocopa), que classificariam os times para a competição propriamente dita. Com um critério fundamentado de verdade, a Copa América poderia finalmente atrair o interesse público neste formato. As Eliminatórias para a Copa do Mundo também seriam repensadas, tanto na divisão de grupos quanto no formato de classificação para o Mundial. Neste caso, se encaixam as vagas para o Mundial de Clubes da FIFA.

Os caminhos e problemas a trilhar para que o futebol continental seja mais coeso e interessante para ambos os lados são muitos, mas não custaria ter um pouco mais de visão dos fatos e entender que lugares como a Europa e a Ásia conseguem administrar (do seu jeito) muitos afiliados em suas confederações, sem problemas maiores. Claro, não querendo comparar realidades diversas. Mas é importante saber que há assuntos que poderiam ser discutidos sem nenhum problema por jornalistas e fãs de futebol, mas ainda não o são.

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Ouvindo Nick Lachey - What's Left of Me