domingo, fevereiro 04, 2007

Israel, o nômade das Eliminatórias

OBS: Este texto está originalmente no Site Futebol Estranho. Se quiser visitar o site e conferir o texto completo, com as referências ao mesmo, visite http://www.futebolestranho.com

Nenhuma equipe de futebol sofreu tanto os problemas políticos como a de Israel. Representando um país imerso em conflitos e cercado de inimigos, os Israelitas sempre sofreram para buscar o sonho de participar de uma Copa do Mundo. Atualmente estão representados na zona européia, aonde não tem chances reais de jogar o Mundial. Mesmo assim, os herdeiros da terra de Davi persistem e buscam seu lugar ao sol na maior competição do futebol Mundial. Só que nem sempre foi assim.

No começo, o lugar era representado pela “Palestina”, na verdade, uma seleção recheada de judeus que moravam na região. Disputou por duas vezes as eliminatórias para a Copa do Mundo (1934 e 1938), sem nenhum sucesso nas duas empreitadas. O Estado de Israel só surgiria em 1948, e com isso, as guerras.

A primeira participação israelita nas eliminatórias foi nas de 1950, onde enfrentou a Iugoslávia, perdendo as duas partidas (6 a 0 e 5 a 2). Glazer foi o autor do primeiro gol de Israel em Copas do Mundo (considerando tanto as Eliminatórias quanto a Copa em si), na partida de volta, em Tel-Aviv. Mal sabiam eles que enfrentar os europeus seria o seu futuro.

Nas eliminatórias seguintes (1954), Israel voltou a jogar contra os Europeus, de novo contra os iugoslavos e tendo a companhia agora dos gregos. Quatro jogos, quatro derrotas: duplo 1 a 0 para a Iugoslávia e 1 a 0 e 2 a 0 para os gregos. E último do grupo 10 das eliminatórias européias.

Para tentar ir a Suécia em 1958, Israel foi colocada no grupo afro-asiático, mas não disputou nenhuma partida por este grupo. Tudo porque, afinal, caiu contra adversários de fé islâmica. Primeiro no Sub-Grupo 2, os turcos desistiram de encontrar Israel. Logo depois foi a Indonésia, que exigiu jogar contra os israelitas em campo neutro. Não foram atendidos e foram eliminados. Por último, Sudão e Egito se recusaram a jogar contra Israel (os últimos ainda mais por causa da malfadada tentativa de invadir o Canal de Suez, dois anos antes). Por tanto Israel, sem ter entrado em campo, foi declarado campeão da chave afro-asiática.

Mas, para sonhar com o Mundial (e quem sabe, jogar contra Pelé e Garrincha), Israel teve de jogar um play-off contra um dos vice-campeões de um dos grupos europeus. O País de Gales foi escolhido, e por duas vitórias pelo placar de 2 a 0, finalizou com as esperanças de Israel ir a Copa do Mundo.

Uma bizarra seleção das chaves das Eliminatórias para a Copa de 1962 fez com que Israel voltasse a disputar jogos pela zona européia. Na primeira fase da chave 7, os israelitas enfrentaram o Chipre. E pela primeira vez tiveram sucesso em sua empreitada. Empate em 1 a 1 em Nicósia e a primeira vitória, em Tel-Aviv, por incríveis 6 a 1. Graças a Levy (que marcou 3 gols) e Stelmach, autor de dois, Israel passou a próxima fase para enfrentar a Etiópia. Dessa vez, as duas partidas foram em Israel: 1 a 0 em Tel-Aviv e 3 a 2 em Haifa colocaram Israel na “final” da chave contra a Itália. Contra a “Azzurra”, duas derrotas (4 a 2 em Tel-Aviv e 6 a 0 em Turim) desclassificaram Israel das eliminatórias. (a Romênia havia desistido do grupo)

Para buscar a Copa da Inglaterra em 1966, Israel permaneceu no grupo europeu, sorteado na chave 1, diante de Bulgária e Bélgica. Quatro derrotas: 1 a 0 e 5 a 0 diante dos belgas e 4 a 0 e 2 a 1 contra os búlgaros deixaram os israelitas na lanterna da chave. Talbi foi o autor do único gol de Israel nas Eliminatórias para a Copa inglesa. E por mais quatro anos o sonho da Copa em Israel seria adiado.

Nas eliminatórias para a Copa de 1970, no México, Israel teve de jogar contra times da Oceania (Coréia do Norte havia desistido de jogar). Jogando em casa (duas partidas em Ramat Gan), duas vitórias contra a Nova Zelândia: 4 a 0 e 2 a 0. Na “final”, Israel bateu a Austrália em Tel-Aviv: 1 a 0. Na volta, em Sydney, o empate em 1 a 1 garantiu a ida (a única da história) de Israel a um Mundial. Na Copa em si, derrota na estréia contra o Uruguai (2 a 0) e dois empates, contra a futura vice-campeã Itália (0 a 0) e contra a Suécia (1 a 1). Spiegler pode ser considerado um herói em Israel, por ter feito o primeiro e único gol de Israel em uma Copa do Mundo.

Na disputa para ir a Copa da Alemanha em 1974, Israel foi classificada no grupo de Ásia e Oceania. Nas partidas para decidir os grupos, Israel bateu o Japão em Seul (2 a 1) e foi para o subgrupo B, aonde foi o primeiro num grupo com Coréia do Sul, Malásia e Tailândia. Encarou os japoneses de volta nas semifinais intergrupos (entre o A e o B), e os venceu novamente, dessa vez pelo placar mínimo (aka 1 a 0) na prorrogação. A mesma prorrogação tiraria os israelitas do prosseguimento das eliminatórias, ao perderem dos sul-coreanos na final por também 1 a 0.

Os israelitas foram mantidos na zona do “extremo oriente” na fase asiática das eliminatórias da Copa de 1978. Jogando em um grupo com Coréia do Sul e Japão, foi vice, marcando 5 pontos, com duas vitórias em cima do Japão e uma derrota e um empate contra os sul-coreanos.

Nas eliminatórias para o Mundial de 1982, Israel encontrou uma “nova” casa: a UEFA. “Acolhido” pelos europeus por causa dos problemas locais, Israel participaria da marcha européia rumo a Copa. No caminho para a Espanha, caiu na chave 6. Foi lanterna em um grupo que tinha Escócia e Irlanda do Norte (classificados), Suécia e Portugal. Somou apenas um triunfo na disputa. E que triunfo: goleou Portugal por 4 a 1, na última rodada, tirando as chances lusitanas de ir a Copa. Somou 5 pontos, com 1 vitória, 3 empates e 4 derrotas.

Só que em 1986, Israel mudou novamente de zona: dessa vez a da Oceania, na chave com Austrália, Nova Zelândia e Taiwan. Até que foi bem, ainda mais pelo nível técnico dos adversários. Foi vice, numa campanha que incluiu duas goleadas sobre os taiwaneses (6 a 0 e 5 a 0, ambas as partidas realizadas em Ramat Gan-ISR). Ainda arrancou um 1 a 1 contra a Austrália e bateu os neo-zelandeses (que foram a Copa anterior) por 3 a 0 na última rodada. No fim, 7 pontos somados e o 2º lugar da chave, apenas atrás dos “Socceroos”.

E os israelitas retornaram ao grupo oceânico para tentar a Copa de 1990 na Itália. A equipe entrou direto na fase final, em um triangular contra Austrália e Nova Zelândia. Dessa vez Israel teve um bom desempenho, apesar de apenas ter vencido 1 jogo (1 a 0 contra a Nova Zelândia, gol de Rosenthal) e ter empatado os outros 3, os israelitas somaram 5 pontos e venceram a chave, tendo de disputar a repescagem contra a Colômbia, vencedora de uma das chaves sul-americanas. Bastou um gol de Uzuriaga na primeira partida em Bogotá para selar o destino do play-off. 1 a 0 na Colômbia e 0 a 0 em Israel mais uma vez afastaram a chance da Copa.

Definitivamente a partir das eliminatórias para o Mundial dos EUA, em 1994, Israel participaria das eliminatórias européias, o que dificultou ainda mais o caminho até a fase final do Mundial. Caiu no grupo 6, com França, Bulgária, Áustria, Suécia e Finlândia. A participação israelita não foi das melhores, terminou na lanterna, com 5 pontos. Mas foi responsável por uma das maiores zebras da história do futebol europeu. Até o dia 13/10/1993, não havia vencido nenhuma das partidas daquele grupo (apenas 2 empates, um 2 a 2 contra a Bulgária e um 0 a 0 diante da Finlândia). Naquele dia, em um jogo surpreendente, Israel bateu a França em plena Paris, por 3 a 2 com um gol de Atar no último minuto e deu início ao que seria a desclassificação francesa das eliminatórias (terminada no famoso jogo contra a Bulgária). No fim, Israel ainda empataria mais uma vez (1 a 1 contra a Áustria).

Nas eliminatórias para o Mundial da França em 1998, Israel caiu no grupo 5, com Bulgária, Rússia, Luxemburgo e Chipre. Foi uma campanha bem melhor do que a de 1994, terminando em 3º com 13 pontos, atrás apenas de Bulgária e Rússia. Israel teve como bons momentos a vitória contra os búlgaros (2 a 1) na estréia e o empate contra a Rússia em 1 a 1.

Já para tentar ir a Copa de 2002, Israel foi colocado no grupo 7, com Espanha, Áustria, Bósnia-Herzegóvina e Liechtenstein. E de novo fechou a chave no terceiro posto, com 12 pontos, atrás de espanhóis e austríacos. Obteve 3 vitórias, duas contra o Liechtenstein (2 a 0 em Tel-Aviv e 3 a 0 em Vaduz) e uma contra a Bósnia (3 a 1). Ainda empatou em 1 a 1 em casa contra os espanhóis.

E quase que Israel de novo tira a França de mais uma Copa do Mundo, nas Eliminatórias do Mundial da França. Além dos franceses, ficou na mesma chave (a 4) de Suíça, Chipre, Irlanda e Ilhas Faroe. Arrancou dois empates diante dos franceses (0 a 0 e 1 a 1), mesmo expediente contra os suíços (2 a 2 e 1 a 1) e Irlanda (1 a 1 e 2 a 2). Terminou invicto no grupo, com 18 pontos, os mesmos dos suíços, mas perdeu no desempate. Apesar da campanha irregular, chegou até a incomodar a seleção de Zizou e cia.


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Apesar dos fracassos de sua seleção, um Israelita está marcado para sempre na história do futebol: Abraham Klein. Juiz de futebol, apitou internacionalmente dos anos 60 aos 80. Apitou três partidas do Brasil em Copas: Brasil x Inglaterra, na Copa de 1970, Brasil x Itália na Copa de 1978 e o fatídico Brasil x Itália da Copa de 1982

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Este é o time-base israelita na Copa de 1970: Vissoker; Rosen, Bar, Primo e Schwager; Rosenthal, Shum, Spiegler e Spiegel; Faygembaum e Vollach. Emanuel Schaffer foi o treinador.

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Israel, no começo das competições de clubes asiáticas, foi um bom competidor, vencendo boa parte das primeiras Copas da Ásia e Copas dos Campões Asiáticos. Os problemas com os mulçumanos os impediram de conitnuar nessas Copas. Hoje participam das eliminatórias da Eurocopa e das copas européias de clubes